Um pintor, Quatro escritores, com o artista plástico Yves Decoster - Quadro I

Escrito em 6 de Março de 2020

Um pintor, Quatro escritores, com o artista plástico Yves Decoster - Quadro I

A sensação de superar um desafio que, inicialmente nos deixa nervosos com a responsabilidade implicada, é um misto de felicidade, orgulho e gratidão. Obrigada, querido amigo Pedro Paulo Camara pelo convite e confiança. Obrigada, Yves Decoster pela ideia de aliar a escrita e a pintura, proporcionando assim um resultado incrível. Todo o sucesso para vós e para os meus queridos cúmplices da escrita, que também participaram nesta aventura! <3
#susanacjudice #escrita #pintura #arte

Veja a entrevista da exposição no canal de informação "Açores Hoje", aqui:

https://www.facebook.com/acores.hoje/videos/2258689961098720/

Quadro nr. 1 , Luva azul Texto : Susana Júdice

Desde pequeno, sempre me foi incutido que todos nós, sem exceção, nascemos com um propósito. Mas como é que descobrimos esse propósito? Como é que sabemos qual é o nosso lugar no mundo? Nunca perdi muito tempo a pensar no futuro, até hoje. Acordei de um sonho intenso e peculiar: sonhei que era médico. No sonho, senti-me genuinamente feliz. Estranhamente, a experiência tão vívida provocou-me uma inspiração, quase divina, que me preencheu, corajosamente, a alma. Espreitei pela janela do meu aposento e observei as nuvens negras que pareciam ir dominar o dia, incentivando-me, assim, a ficar em casa. Existem momentos na nossa vida que não conseguimos explicar. Hoje, era um desses momentos.
Analisei o meu reflexo e libertei-me das minhas vestes, querendo, com isso, libertar-me do paradigma pessoal e social que sempre influenciou grande parte das pessoas ao meu redor. Sensação libertadora. Enquanto humano, posso, inconscientemente, manifestar-me de acordo com as minhas vivências, mas recusava manifestar-me em prol de uma pré-definição ou inclusão social. Possuía, em mim, o poder de escolha. Quem sou eu e o que é que me faz feliz? Perguntei ao meu reflexo, como se proferir as palavras em voz alta, me ajudasse a compreender este jogo entre o sonho e a realidade, ou ainda, entre a realidade e o preconceito. O sonho de querer ser, versus a realidade de efetivamente o ser. A realidade de ser quem sou, como sou, versus o preconceito exterior, imposto pela sociedade, incutindo-me uma postura distintiva, avaliada pelo estatuto individual.
Possibilidades infinitas. Somos feitos de possibilidades infinitas. Era essa a mensagem do meu sonho. O conceito afirmava um sentido de liberdade. A liberdade de construir sonhos, independentemente das origens, ou posses. A liberdade para perseguir o que nos possa fazer felizes, independentemente de opiniões negras, como as nuvens, lá fora. A liberdade de ingressar em todo e qualquer rumo, com plena aceitação da nossa essência, exposta, de forma genuína, primitiva e sem medos.
Esbocei mais um sorriso, desta vez de orgulho e aceitação. Declarei a certeza de uma verdade inevitável: tudo o que preciso para atingir o sucesso, ou para sentir uma centelha de felicidade, encontra-se em mim. Basta, para isso, ter a coragem de me despir de medos profundos, julgamentos exteriores e render-me a uma aceitação verdadeira de quem sou, de quem quero ser. Sim, talvez um dia venha a ser médico, pensei, ao recordar, com ironia, o sonho que criara um sonho. O mundo é repleto de possibilidades infinitas para aqueles que enfrentam o futuro com um sorriso confiante.

Susana C. Júdice